segunda-feira, 16 de abril de 2012

INGÉM DE FERRO


                                                                Ingém de ferro, você
Com seu amigo motô,
Sabe bem desenvorvê,
É munto trabaiadô.
Arguém já me disse até
E afirmô que você é
Progressista em alto grau;
Tem força e tem energia,
Mas não tem a poesia
Que tem o ingém de pau.

O ingém de pau quando canta,
Tudo lhe presta atenção,
Parece que as coisa santa
Chega em nosso coração.
Mas você, ingém de ferro,
Com este horroroso berro,
É como quem qué brigá,
Com a sua grande afronta
Você tá tomando conta
Dos nossos canaviá.

Do bom tempo que se foi
Faz mangofa, zomba, escarra.
Foi quem expulsou os boi
Que puxava na manjarra.
Todo soberbo e sisudo,
Qué governá e mandá tudo,
É só quem qué sê ingém.
Você pode tê grandeza
E pode fazê riqueza,
Mas eu não lhe quero bem.

Mode esta suberba sua
Ninguém vê mais nas muage,
Nas bela noite de lua,
Aquela camaradage
De todos trabaiadô.
Um falando em seu amô
Outro dizendo uma rima,
Na mais doce brincadêra,
Deitado na bagacêra,
Tudo de papo pra cima.

Esse tempo que passô
Tão bom e tão divertido,
Foi você quem acabô,
Esguerado, esgalamido!
Come,come interessêro!
Lá dos confim do estrangêro,
Com seu baruio indecente,
Você vem todo prevesso,
Com históra de progresso,
Mode dá desgosto a gente!

Ingém de ferro, eu não quero
Abatê sua grandeza,
Mas eu não lhe considero
Como coisa de beleza,
Eu nunca lhe achei bonito,
Sempre lhe achei esquesito,
Orguioso e munto mau.
Até mesmo a rapadura
Não tem aquela doçura
Do tempo do ingém de pau.

Ingém de pau! Coitadinho!
Ficou no triste abandono
E você, você sozinho
Hoje é quem tá sendo dono
Das cana do meu país.
Derne o momento infeliz
Que o ingém de pau levou fim,
Eu sinto sem piedade
Três moenda de sodade
Ringindo dentro de mim.

Nunca mais tive prazê
Com muage neste mundo
E o causadô de eu vivê
Como um pobre vagabundo,
Pezaroso, triste e pérro,
Foi você, ingém de ferro,
Seu safado, seu ladrão!
Você me dexô à toa,
Robou as coisinhas boa
Que eu tinha em meu coração!

quarta-feira, 28 de março de 2012

HUMOR

CRIAÇÃO DA DONA DO BLOG. rs

A triste partida - Patativa do Assaré

Setembro passou, com oitubro e novembro
Já tamo em dezembro.
Meu Deus, que é de nós?
Assim fala o pobre do seco Nordeste,
Com medo da peste,
Da fome feroz.

A treze do mês ele fez a experiença,
Perdeu sua crença
Nas pedra de sá.
Mas nôta experiença com gosto se agarra,
Pensando na barra
Do alegre Natá.

Rompeu-se o Natá, porém barra não veio,
O só, bem vermeio,
Nasceu munto além.
Na copa da mata, buzina a cigarra,
Ninguém vê a barra,
Pois barra não tem.

Sem chuva na terra descamba janêro,
Depois, feverêro,
E o mêrmo verão
Entonce o rocêro, pensando consigo,
Diz: isso é castigo!
Não chove mais não!

Apela pra maço, que é o mês preferido
Do Santo querido,
Senhô São José.
Mas nada de chuva! tá tudo sem jeito,
Lhe foge do peito
O resto da fé.

Agora pensando segui ôtra tria,
Chamando a famia
Começa a dizê:
Eu vendo meu burro, meu jegue e o cavalo,
Nós vamo a São Palo
Vivê ou morrê.

Nós vamo a São Palo, que a coisa tá feia;
Por terras aleia
Nós vamo vagá.
Se o nosso destino não fô tão mesquinho,
Pro mêrmo cantinho
Nós torna a vortá.

E vende o seu burro, o jumento e o cavalo,
Inté mêrmo o galo
Vendêro também,
Pois logo aparece feliz fazendêro,
Por pôco dinhêro
Lhe compra o que tem.

Em riba do carro se junta a famia;
Chegou o triste dia,
Já vai viajá.
A seca terrive, que tudo devora,
Lhe bota pra fora
Da terra natá.

O carro já corre no topo da serra.
Oiando pra terra,
Seu berço, seu lá,
Aquele nortista, partido de pena,
De longe inda acena:
Adeus, Ceará!

No dia seguinte, já tudo enfadado,
E o carro embalado,
Veloz a corrê,
Tão triste, o coitado, falando saudoso,
Um fio choroso
Escrama, a dizê:

- De pena e sodade, papai, sei que morro!
Meu pobre cachorro,
Quem dá de comê?
Já ôto pergunta: - Mãezinha, e meu gato?
Com fome, sem trato,
Mimi vai morrê!

E a linda pequena, tremendo de medo:
- Mamãe, meus brinquedo!
Meu pé de fulô!
Meu pé de rosêra, coitado, ele seca!
E a minha boneca
Também lá ficou.

E assim vão dexando, com choro e gemido,
Do berço querido
O céu lindo e azu.
Os pai, pesaroso, nos fio pensando,
E o carro rodando
Na estrada do Su.

Chegaro em São Paulo - sem cobre, quebrado.
O pobre, acanhado,
Percura um patrão.
Só vê cara estranha, da mais feia gente,
Tudo é diferente
Do caro torrão.

Trabaia dois ano, três ano e mais ano,
E sempre no prano
De um dia inda vim.
Mas nunca ele pode, só veve devendo,
E assim vai sofrendo
Tormento sem fim.

Se arguma notícia das banda do Norte
Tem ele por sorte
O gosto de uvi,
Lhe bate no peito sodade de móio,
E as água dos óio
Começa a caí.

Do mundo afastado, sofrendo desprezo,
Ali veve preso,
Devendo ao patrão.
O tempo rolando, vai dia vem dia,
E aquela famia
Não vorta mais não!

Distante da terra tão seca mas boa,
Exposto à garoa,
À lama e ao paú,
Faz pena o nortista, tão forte, tão bravo,
Vivê como escravo
Nas terra do su.
* Verso cantado por Luiz Gonzaga
Livros importantes e muito conhecidos do Patativa. Suas obras tinham um perfeição de admirar aos leitores.

Algumas imagens do "passarinho".

Ao lado de Luiz Gonzaga em uma de suas apresentações.

Homem simples e trabalhador que virou um grande escritor.

                                                                Na porta de sua residência.

Homenagem da Prefeitura de Fortaleza a Patativa do Assaré

A partir das 16h30, a Praça do Ferreira recebe espetáculo, dentro da programação de Aniversário da Cidade.
Hoje, dia do aniversário de 283 anos de Fortaleza, a festa continua na Praça do Ferreira, quando o lugar vai ser palco para uma grade homenagem a Patativa do Assaré pelo centenário de seu nascimento (5/03/2009).

Música, poesia, embolada de coco, filme, sapateado e outras peripécias vão relembrar o Mestre da poesia popular, filósofo da natureza e da vida no Sertão, camponês, político e escritor que nasceu na Serra de Santana, em
 
Assaré, e que deixou sua poesia em forma de cantorias e desafios, cordéis e repentes pulsando em versos, livros, cordéis, xilogravuras, discos, filmes, teatro, cartas e idéias.

O tributo, realizado pela Prefeitura Municipal de Fortaleza, através da Secretaria de Cultura de Fortaleza (Secultfor), dentro das comemorações dos 283 anos da Cidade, começa às 16h30 com o espetáculo “Pratativando”.

Escrita, dirigida e interpretada por Cláudio Ivo e Orlângelo Leal, a peça conta a história de Mateus, um astucioso menestrel que se vale da esperteza para enveredar no "show" que está sendo apresentado por um cantador em homenagem ao poeta maior, "Patativa do Assaré". Depois de conseguir a façanha, começa uma grande viagem pelo universo de “Vaca estrela boi fubá”, “A triste partida”, “Por que deixei Zabé” e outros poemas da obra de Patativa.

Em seguida, as palavras ritmadas de Patativa do Assaré vão animar o público no show de Gildário de Assaré, sobrinho-neto do poeta. No repertório, músicas do mais autêntico xote, algumas compostas em parceria com o próprio Patativa.

Na seqüência, os DJs do projeto "Poeticativa do Assaré" vão usar falas poéticas de Patativa como base para a criação de uma performance musical executada por quatro músicos da nova geração da música cearense: Felipe Correia, o DJ Fil, que entrará com seus loops e beats digitais; Narcelio Grude, criador de instrumentos inusitados a partir de sucatas; David da Paz, poeta subversivo; e George Frizzo, baixista e produtor cultural.

A tarde de homenagens se encerra com a exibição em sessão gratuita, aberta ao público, do filme “Ave Poesia”, de Rosemberg Cariry. Para a realização da película, foram coletadas mais de 100 horas de material em estado bruto, ao longo de 27 anos. O resultado narra a vida do poeta Patativa do Assaré, em especial o lado político de seus atos, a confecção de seus poemas e sua relevância para a cultura brasileira. O filme ganhou o prêmio de Melhor Filme, no Cine Ceará. A sessão começa às 18h10, no Centro Cultural Sesc São Luiz.
Imagem do PATATIVANDO (a peça em homenagem a Patativa do Assaré).

Filme do Patativa

Esse trailer fala de um filme feito por Rosemberg Cariry que se chama Ave Poesia.

O FILME trata de:

A narrativa histórica e biográfica se inicia com o velório de Patativa do Assaré (2002) e, a partir daí, é contada a sua vida, com referências a acontecimentos pessoais e históricos. A cronologia dos acontecimentos políticos e culturais brasileiros, bem como os fatos marcantes da vida do poeta, redimensionados pela mediação da sua poesia, é intercalada com depoimentos e análises críticas da sua obra, de forma a fornecer um panorama amplo e de compreensão profunda da poética patativiana e do universo da cultura popular.

O filme é o resultado de muitos anos de vivências e pesquisas. Filmamos e gravamos ao longo de 27 anos. Amigo e compadre do poeta, fui registrando em cinema (super-8, 16mm e 35mm) e em vídeo (S-VHS, Hi-8, U-Matic, Betacam, Digital Vídeo), desde o ano de 1978, muitos aspectos da vida do poeta: o cotidiano na roça e na cidade do Assaré, os recitais, as entrevistas coletivas, as participações em movimentos sociais e políticos, os depoimentos, as gravações de discos em estúdio, os shows com outros cantores, as festas de aniversário, as doenças, os internamentos, até o momento final: a sua morte. Este imenso esforço de preservação da memória do maior poeta popular brasileiro de todos os tempos resultou em mais de cem horas de imagens de grande valor documental, cultural/estético e, sobretudo, humano. A este arquivo, vieram juntar-se muitas outras horas de gravações em vídeo coletadas em TVs do Nordeste e do Sudeste e em arquivos particulares espalhados por todo o País.

Além das imagens documentais de Patativa e dos acontecimentos históricos, foram usados também jornais de época, reportagens de TVs, registros de feira, programas de rádio, recortes de jornais, shows musicais, textos narrativos, poemas e canções. Todo esse material jornalístico e documental, de arquivos, de cinematecas e de TVs, constitui parte da narrativa, muitas vezes, como “complexo virtual”, em que as imagens da ficção (representações do cotidiano do poeta) são montadas com as imagens documentais de arquivos, de tal forma que a ficção não se separe do cotidiano, nem o sonho se separe da realidade. É, por exemplo, o caso dos seus poemas, que vão carregando de significado as imagens históricas do tempo da ditadura militar. O processo de pós-produção digital permitiu que imagens de arquivo e imagens gravadas em vídeo digital, imagens velhas e danificadas, sons novos e sons antigos, fossem trabalhados em seus contrastes, cores e texturas, dando ao filme uma estética bem determinada.

No filme, a realidade ordinária é transfigurada pela poética das velhas imagens e pela oralidade das palavras. As palavras do poeta Patativa revelam e dão novos significados às imagens, e, assim, palavras e imagens nos mostram a história e a vida, na qual nos inserimos, como membros que somos desta fabulosa comunidade de destino que chamamos Brasil. O equilíbrio entre as imagens de arquivo, do cotidiano do poeta, da cultura popular e dos acontecimentos sociais e políticos dão ao documentário um ritmo uma viva pulsação de emoções e idéias. Alguns poemas mais importantes, como A Morte de Nanã e A Triste Partida, são apresentados com poucos cortes, por conta sua importância poética e densidade dramática. A idéia é fazer com que o filme tenha a singeleza e importância de um conversa de roda, de uma narrativa popular feita por um poeta-mestre, destas que a gente escuta sentado nas calçadas das casas sertanejas, ao anoitecer, enquanto se espera a fresca do vento Aracati.

O filme documentário Patativa do Assaré – Ave Poesia é, portanto, uma obra importante na preservação para gerações futuras de aspectos fundamentais da vida e da obra desse poeta popular que se transformou em um patrimônio cultural e afetivo do povo brasileiro.
[fonte de patativaofilme, blog]


O poeta passarinho recitando seus poemas.


          Dando uma passeada em alguns sites descobri esse vídeo no youtube. O tal despertou minha atenção pela memória que Patativa tinha. Ele tirava tudo de sua própria "cabeça" (sem precisar da ajuda da caneta e do papel).
    Os textos são bonitos e admiráveis mas nada chega aos pés da sensação de ouvir e ver o próprio recitando suas obras.

Patativa no Programa do Jô Soares

Parte 1


Parte 2

Obras de Antônio

Livros de poesia

  • Inspiração Nordestina: Cantos do Patativa (1967);
  • Cante Lá que Eu Canto Cá (1978);
  • Ispinho e Fulô (2005) (1988);
  • Balceiro. Patativa e Outros Poetas de Assaré (Org. com Geraldo Gonçalves de Alencar) (1991);
  • Cordéis (caixa com 13 folhetos) (1993);
  • Aqui Tem Coisa (2004) (1994);
  • Biblioteca de Cordel: Patativa do Assaré (Org. Sylvie Debs) (2000);
  • Digo e Não Peço Segredo (Org. Guirlanda de Castro e Danielli de Bernardi) (2001);
  • Balceiro 2. Patativa e Outros Poetas de Assaré (Org. Geraldo Gonçalves de Alencar) (2001);
  • Ao pé da mesa (co-autoria com Geraldo Gonçalves de Alencar) (2001);
  • Antologia Poética (Org. Gilmar de Carvalho) (2002);
  • Cordéis e Outros Poemas (Org. Gilmar de Carvalho) (2008).

Poemas

  • A Triste Partida;
  • Cante Lá que eu Canto Cá;
  • Coisas do Rio de Janeiro;
  • Meu Protesto;
  • Mote/Glosas;
  • Peixe;
  • O Poeta da Roça;
  • Apelo dum Agricultor;
  • Se Existe Inferno;
  • Vaca estrela e Boi Fubá;
  • Você se Lembra?;
  • Vou Vorá;
  • Caboclo Roceiro.